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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Uso de vibradores beneficia idosas física e psicologicamente; livre-se de preconceitos

"O uso de vibradores por idosas, mesmo por aquelas que têm vida sexual ativa, faz bem para ela e para o parceiro", diz o ginecologista e sexólogo Eliezer Berenstein


Ele foi criado na Inglaterra do século 19 por um médico e se tornou o instrumento que ajudaria na superação de problemas tidos como tipicamente femininos na época - entre eles, irritabilidade, melancolia, ansiedade e crises emocionais que os especialistas acreditavam serem sintomas da histeria. Com o passar do tempo e de várias revoluções, incluindo a sexual, que pregava o direito da mulher ao orgasmo, o vibrador assumiu a função de objeto de prazer, ganhando espaço nas camas de mulheres, homens e casais. 

Mas as mudanças comportamentais não cessaram e, nos dias de hoje, as idosas começam a fazer uso dos vibradores com indicação de especialistas. O ginecologista e sexólogo Eliezer Berenstein, autor do livro "Inteligência Hormonal da Mulher" (Editora Objetiva), vê grandes benefícios no uso do aparelho por mulheres da terceira idade e o indica sempre àquelas que demonstram desejo de viver sua sexualidade.

"HISTERIA": FILME FALA SOBRE O SURGIMENTO DO VIBRADOR


Para o humor instável e depressão (alguns dos sintomas atribuídos à histeria feminina) foram receitados os mais estranhos tratamentos, desde casamento e andar a cavalo até massagens pélvicas.

Em 1883, no auge do puritanismo vitoriano, o primeiro vibrador elétrico foi criado pelo médico inglês Joseph Mortimer Granville, em Londres. Esse é o pano de fundo para o roteiro de "Histeria". 



De forma romanceada, o filme conta a invenção do objeto, que foi criado para cuidar de tensões e dores musculares e passou a ser usado em massagens medicinais dos órgãos femininos --de acordo com a rígida moral vitoriana, ele não tinha ligação alguma com prazer sexual.

No filme, Hugh Dancy (que interpreta o inventor) consegue emprego com Robert Dalrymple (Jonathan Pryce), especialista nos  tratamentos de males femininos em Londres.

Requisitado por mulheres que reclamam de problemas como melancolia e ansiedade, o profissional as trata com a eficaz "massagem manual". Não demora muito para que Granville tenha mulheres fazendo fila em sua porta.

Com a nova função, o médico começa a sofrer com cãibras nas mãos. É quando surge a ideia da invenção do vibrador, em uma conversa com o amigo Edmund St. John-Smythe (Rupert Everett).


A ginecologista e sexológa Glene Rodrigues também indica o uso de vibradores para pacientes idosas. "O uso do vibrador vai manter a funcionalidade da vagina. Se ela encontrar um parceiro, a relação sexual será facilitada", diz. "A idade não dessexualiza ninguém. A mulher pode ter a frequência de sexo reduzida, mas pode ter a qualidade melhorada. Ela pode se masturbar menos do que quando era jovem, mas pode ter um orgasmo tão bom ou até melhor do que na juventude". 

De acordo com Berenstein, os benefícios da utilização do vibrador por mulheres mais idosas são muitos. "Ter prazer aumenta o nível de endorfina, substância importante para manutenção da serotonina, que é a molécula do bom humor", diz.  

Infantilização da vagina

Em alguns casos, mulheres na menopausa podem ter mudanças na vagina, como explica o ginecologista Eliano Pellini, chefe do setor de Saúde e Medicina Sexual da Faculdade de Medicina do ABC. 


Nesses casos, o médico não recomenda o uso de vibradores. De acordo com Pellini, há a necessidade de preparar a vagina massageando-a com cremes à base de hormônios femininos, indicados por um médico.

"Se ela se sentir confortável, pode prolongar o tempo até sentir o orgasmo. A partir daí, quanto ela tiver essa intimidade e a vagina tiver lubrificação e plasticidade novamente, pode usar o vibrador", diz o médico. 


Preconceito e vergonha

As idosas do futuro talvez não tenham de lidar com o preconceito quanto ao desejo na terceira idade, mas as de hoje ainda enfrentam desafios. "Grande parte dessas mulheres foi criada com a ideia de que sexo existe apenas para procriação. Até mesmo a masturbação com a própria mão é algo complicado. Imagine então propor a ela um vibrador?" diz a psicóloga, sexóloga e mestre em Saúde da Mulher pela Unifesp Rose Villela.

"Quando o médico indica o acessório acaba dando uma espécie de permissão. A gente sabe que se a mulher mantém sua sexualidade, seja com o parceiro ou com o vibrador, o resultado sempre será positivo para a saúde e o bem-estar", diz Rose. 

A psicóloga, educadora e terapeuta sexual Ana Canosa, professora do curso de Sexualidade na Terceira Idade na Universidade Aberta à Maturidade na PUC-SP, acredita que nem toda mulher na terceira idade tem desejo sexual ou aceita isso. "Algumas nunca se masturbaram na vida", diz Ana. "Tive uma aluna que me disse: ‘Não vou comprar vibrador. Imagina quando eu morrer, meu filho vai à minha casa e descobre’. Veja o tanto que elas foram reprimidas. Temos de levar isso em consideração". 

Superando as barreiras


Segundo Neusa Pandolfo, proprietária de uma sex shop In Company  e especialista em treinamento de profissionais que trabalham com venda de produtos eróticos, a primeira dicas para mulheres que querem conhecer e adquirir um vibrador é procurar uma sex shop com vendedoras atenciosas.

"A mulher pode começar com um estimulador de clitóris e ter orgasmo com ele primeiro. E depois comprar um vibrador pequeno e mais fino para a penetração, principalmente se ela estiver há muito tempo sem relação", diz. Segundo ela, a hora ideal para usá-lo deve ser aquela em que a mulher estiver à vontade, seja no banho, na cama ou vendo um filme erótico. 

Por Cléo Francisco
Do UOL, em São Paulo

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