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quinta-feira, 29 de março de 2012

Por que tantas mulheres fingem orgasmo?

 homem beijando mulher na cama













Uma pesquisa realizada pela Universidade de Indiana, nos Estados Unidos, e publicada no Journal of Sexual Medicine no ano 2000, garante que 60% das mulheres em todo mundo já fingiram orgasmo em algum momento da vida. Segundo o estudo, gemidos, gritos e sussurros são as técnicas teatrais mais utilizadas na cama quando é preciso mostrar ao parceiro que o prazer está no ápice, mesmo que isso não seja bem verdade. Maria Lúcia Beraldo, psicóloga e mestre em sexualidade humana, acredita que esse número seja mesmo compatível com a realidade.
Clara* faz parte dessas estatísticas. No último namoro, ela pôde contabilizar algumas fingidas entre lençóis, todas sem nenhuma culpa. "Eu realmente sentia que se não fingisse podia deixá-lo mal e pra mim já bastava o sexo em si, não achava tão necessário gozar todas as vezes", afirma a empresária, que acredita que fingir orgasmo é normal. Maria Lúcia alerta que o ato de mentir sobre o prazer pode ser comum entre as mulheres, mas é enfática em dizer que não é normal. A ginecologista e terapeuta sexual Glene Rodrigues fortalece essa informação. "A mulher tem toda possibilidade de ter orgasmo, o que muitas vezes acontece é que o homem está tão centrado no próprio prazer que se esquece da companheira", relata a ginecologista. Maria Lúcia alerta ainda que o fingimento pode trazer problemas. "Se essa atitude se torna um padrão, pode-se criar uma falta de desejo constante, tornando-se uma disfunção sexual", ressalta a psicóloga e sexóloga.
Glene lembra que homens e mulheres sentem desejos de formas diferentes, e que isso pode influenciar o prazer a dois na hora H. Homens se excitam visualmente, ou seja, é só olhar que o desejo já aparece. Já as mulheres precisam que o lado emocional seja bem construído, com carinho e preliminares, e assim o orgasmo pode ser alcançado mais facilmente. Por isso, segundo a sexóloga, é tão importante o casal estar junto na relação sexual, buscando o prazer em parceria.
homem beijando mulher
Será que o homem percebe quando a mulher está fingindo um orgasmo? 
O físico Wagner Fázio acredita que a encenação pode ser perceptível, mas acha que as reações corporais de quem está tendo orgasmo são difíceis de serem simuladas. Maria Lúcia descreve as modificações do corpo na hora do prazer e diz que é mesmo complicado conseguir fingi-las. "A vagina se alonga, os batimentos cardíacos se aceleram, acontecem contrações e relaxamento do útero e da musculatura da vagina, além de um aumento da lubrificação vaginal", afirma.
Wagner comenta que já teve uma relação sexual em que ficou na dúvida se a mulher havia tido orgasmo. "Os gritos e gemidos não condiziam com o que o corpo falava, então fingi que acreditei", conta. Mesmo com as mudanças físicas na hora do orgasmo, Maria Lúcia crê que é muito difícil um homem perceber que a mulher está mentindo, pois cada pessoa tem um jeito próprio de sentir o prazer, e cada corpo tem um modo particular de reagir ao estímulo. "É como um espirro: tem uns que espirram gritando, outros que o espirro é contido, na hora do orgasmo cada mulher tem um jeito pessoal de chegar lá", exemplifica.
O designer Júlio* diz que não se importa com o fingimento. "Se eu estou gostado, e ela não me fala nada, não reclama, então o problema é dela", aponta. Júlio acredita que a mulher deve falar ao parceiro se não sente prazer, mas não acha que o fingimento possa fazer mal para a relação. Assim como Clara, Júlio também vê a mentira como algo normal. Já Wagner entende que nas primeiras relações sexuais do casal, quando os dois ainda não possuem intimidade e ainda não se conhecem sexualmente, um fingimento pode até ajudar a ter um bom início de relacionamento, mas acredita que toda relação deve ser pautada na confiança e na sinceridade. "Com o tempo é claro que tudo isso pode fazer mal a relação", defende o físico.
 mulher na cama
Porque tantas mulheres ainda fingem que chegaram ao orgasmo? 
Para Glene, essa pergunta é extensa e as respostas são mais amplas do que imaginamos.
Segundo a sexóloga, a base para essa mentira é quase sempre a mesma: fingir orgasmo está vinculado com a manutenção e preservação da relação. "O medo de perder o companheiro é muito grande, e junto com ele vem a insegurança de achar que o parceiro pode pensar que ela não é 'boa de cama'", explica a sexóloga.
Maria Lúcia acredita que a maioria dos fingimentos acontece quando a mulher se cansa no meio da relação por não estar tendo prazer e finge orgasmo para poder terminar logo. "Ela quer acelerar o ato, liberando o companheiro para correr atrás do prazer dele", aponta a psicóloga.
A pouca paciência da mulher em procurar o prazer, e por isso a necessidade de fingir um orgasmo, pode estar ancorada também no desconhecimento do jeito como o próprio corpo funciona. Glene lembra que a mulher pode ter dois tipos de orgasmo: o vaginal ou o clitoriano. O clitoriano acontece no único órgão exclusivo para o prazer na mulher, que é o clitóris. Por estar em um local que o pênis não atinge na hora da penetração, às vezes fica mais difícil chegar ao orgasmo. "Muitas mulheres não conhecem o seu próprio corpo e o homem também não sabe como dar prazer à parceira", analisa.
Glene dá algumas dicas para que o prazer esteja ao alcance das mãos e para que não seja necessário fingi-lo. "Manipular o clitóris enquanto acontece a penetração pode ser a melhor forma de conseguir o prazer, a manipulação pode ser com os dedos (dele ou os seus), ou através de uma posição na qual o clitóris seja estimulado", sugere a ginecologista e sexóloga.
Segundo Maria Lúcia, o principal órgão sexual é o cérebro. Para ela, o problema de fingir o orgasmo por não ter prazer pode estar na educação moralista que relaciona o sexo à coisa errada e negativa, gerando culpa e falta de conhecimento sobre o corpo e o sexo. "É preciso que a mulher goste de se conhecer, de se masturbar, que se permita se concentrar no ato sexual, e só assim ela vai poder chegar ao orgasmo e não vai mais precisar fingi-lo", garante a psicóloga.
*Nomes trocados para preservar a identidade dos entrevistados.





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